Ver e viver

Nunca deixei de apreciar a escrita, como um puzle da minha existência. Sei o que sai, mas não consigo avaliar o que aí vem! Quero escrever como respirar, mas nunca me dei a tarefa, para a qual os amigos me estimulam, sempre.

A primeira piramide de letras apreciada e comentada foi, por quem mais eventualmente me poderia condicionar, o meu professor de português. No meu último exame desta disciplina, que antecipou minha saída da cidade onde pestanejei pela primeira vez, seguindo para o ensino superior, meio civil meio militar, com os meus verdes 18 anos, a redacção, (hoje composição) tinha como tema, que "profissão gostaria de ter".

Fiquei surprendido confesso! Já tinha escolhido muito antes o que queria fazer na vida e questionar naquele momento era algo que senti ao tempo de catraio, "então que queres fazer quando fores grande?" 

 

"Vivo um dia de cada vez", como se isso desse fruto, porque não dizer, que de cada vez que me encontro estou a viver? Afinal "viver" será somente uma palavra ou ela decompõe-se!?

Já "vi" o que estou a "ver"!!! mas eu gostaria de querer ver o que já vi e assim melhor viver por aquilo que já senti, dado que aprendi. 

Descobrir o mundo dos humanos, afinal é o que nos impressiona mas não o que nos ensinam, sempre em remates de grande sapiência. 

Escrevo o que me incita na descoberta do que vejo, sinto e murmuro no íntimo quando sacodido com surpresas, esse poderoso alimento do comportamento, que nos carrega os sentidos. 

Desde sempre que entender o inverno, me cansou. O outono, fortalece a sombra das dúvidas do que ficou e do que parte, num obscuro e húmido ocaso, destruindo e acelerando ciclos de vida, numa luz ameaçada de progressiva e longa noite. O verão expõe os olhares e as vontades de sorrir em descobertas numa luz que só então existe, numa proximidade quase sobrenatural que nos embala em sonhos e nos conduz ao que nos encanta. A primavera distrai e alia o poder de ser o que se quer, é uma estação sem tempo.

Nenhuma destas estadias no enquadramento do calendário suporta o nascer ou o apagar de alguém. A alegria da surpresa sem contornos, não se igualará ao vazio de um espaço agora em esboço, irremediavelmente  sempre na elegancia do que existia. Não seremos os espaços que morosamente preenchemos, nem donos do que fizemos, nem bafos de memórias em teimosia por tradição social.

Numa tarde de encanto e espanto que de tão distante estar me surpreende saber quão indelével memória ainda me transporta ao local. Foi um canto de sabor indiscritivel a partir daquele momento. Na fase da vida em que procuramos ver, entender e desviar-mo-nos do que nos  perturba, a quem da luz se apropria, não acredita e duvida pelo abalo do seu mundo, resultando num momento em que nada sabia! 

Quem era aquela menina mulher que sem me ver, sem saber da minha existencia seria o ninho dos meus sonhos, a mãe dos meus filhos o ar do meu folego, a fonte de uma ternura, afeição, carinho ou que fosse, que por não lhe captar o olhar me entristeceu, mas na minha proverbial ausencia de recato, ao aproximar-me nesse dia me deu a provar a indiferença, estratégica saberia cedo, por parental controlo, dor desnecessária mas que da nossa juventude se apropria.

O alvo do meu mundo, passou a ser tudo o que de doce se soubesse que existia mas até do amargo das minhas ausencias doces faria.  O abraço sem o tempo determinar, solto e somente pelo desejo de o ser, o ósculo fugidio e súbito, o toque de leveza tão doce e de constante prova de vida, era alimento no silencio de alegrias e tritezas de tempos juntos, ah! e o adormecer de mão segura, como se o escuro do sono nos unisse como costura.

Num periodo de suave e confortável caminho, recolhidos com uma mão cheia de sonhos, onde residem sinais de felicidade, colhendo fruta, aninhando animais e empunhando vontade de criar um pedaço da natureza, numa bonomia de excelencia onde residiam em silencio, eternos sorrisos, saltou a traição de um hereditário sobressalto. Numa doce e proverbial inteligencia e rigor de uma mente iluminada, endereçou-me os seus olhos num propósito candido, doce e macio, com ligeiro frisado, onde me recusei  em consciencia, a dar solidez. NÃO!

 

O olhar e a atitude, no despojo, qual saqueio dos seus adereços, ripando pescoço, dedos e pulsos, como numa catástase fermentada por memórias dos progenitores. Início de uma estrada sem horizonte, de bermas altas como nem querer sair do caminho iniciado.   

pelas notícias clínicas fermentou os meus sentidos uma ,Quantos naquele preciso momento pela demagogia naveguei , registo meigo e de perturbantes  saltar de um trampolim para a água, esta, que seria o nosso "terreno" suportando Vestida para o olhar de meus olhos cegos por nuvem que me envolvia 

conheci uma menina mulher, que colado tinha um conjunto de adequado ao 

Numa manhã, donde do sono não despertei, as más novas numas palavras mecânicas destruíam o amor, o carinho, o abraço, a ternura, o toque, o olhar, o repetido e adivinhado gesto de afecto, a presença de quem connosco esteve, a cuidada e involuntária figura de mulher e senhora. Finou! Nas lezírias, nas colinas, nos mares que tão bem conheceu, nos chãos que lhe deram rumos, faltam agora os cuidados de quem sempre soube caminhar e navegar. Como encarar um caminho, que mais de meio século foi propulsionado por amor e gerido com mestria feminina, num mar estanhado sem brisas que tenham dado forma alguma a uma única tormenta?